quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Escola, esperança de liberdade


Irajá Luiz da SILVA

Resumo: Em geral, o cotidiano das escolas, principalmente nos grandes centros urbanos é bastante agitado e às vezes até tumultuado. São muitos alunos, muitos conteúdos, muita gente para lá e para cá. Nesse contexto, nem sempre é fácil ter clareza do porquê de todo esse trabalho, ou em outras palavras, nem sempre se tem clareza de qual é o papel da escola na sociedade em que vivemos hoje. Os Parâmetros Curriculares Nacionais sinalizam que “...a educação escolar deve possibilitar que os alunos sejam capazes de: compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiça s, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas


Palavras-chave: Escola; ética; cidadania; sociedade; humanidade.



Transformação é a palavra de ordem do século XXI. Em todos os aspectos, do social ao econômico, do político ao comportamental, tudo parece estar fora de controle. Isso porque as coisas do mundo, até mesmo as relações pessoais, vêm se transformando numa velocidade nunca vista na história da humanidade.
Nesses tempos de avanços científicos e de globalização, em que as fronteiras comerciais e financeiras desaparecem, o mercado de trabalho também vive mudanças significativas para se adequar à nova ordem mundial. Analisando o sistema e oportunizando-se para ser seu próprio observador, buscamos respostas que sejam introduzidas como mágicas e/ou como milagres no cotidiano da humanidade, como se fosse uma angustia para aliviar um pouco o peso dos efeitos vivenciados no dia-a-dia. Esquecemos muitas vezes de questionar, onde e como podemos interromper esse processo galopante de conflitos internos que repercutem na exteriorização das atitudes e ações da humanidade.
Talvez, poderíamos propor, assim como tudo é proposto, iniciarmos esse processo nas escolas. Partindo dos princípios éticos e de cidadania; mas não nos projetos de resgate dos valores, até porque, não podemos resgatar algo que não tivemos. Sendo assim, precisaríamos buscar mecanismos para desenvolver esse processo ético e cidadão; através de atitudes sólidas, permitindo experimentar algo não sentido antes. Quando falamos de sentido, sabemos como educadores que somos, que nossos alunos esquecerão tudo que dissermos; mas, jamais esquecerão do que fizermos sentir.
A formação integral do cidadão não diz respeito apenas a atitudes e valores, mas também a conteúdos, considerados na sua totalidade. Na verdade, fatos, conceitos, procedimentos de todas as áreas de ensino estão intimamente ligados aos valores e atitudes humanas. Desse modo, a vida da escola, seja ela na sala de aula, nas reuniões de professores, nos encontros com os pais, seja nos trabalhos feitos pelos alunos respira ética, mesmo se a escola tem atitudes pouco éticas, ou até quando o grupo não têm consciência desse fato. Uma questão importante é compreender que não se trata apenas de montar um curso para se falar de ética com os alunos, mas de viver as situações, os problemas presentes na escola e na comunidade, as aulas de todas as disciplinas a partir de princípios éticos da vida em soci edade. Não adianta fazer discurso sobre as regras gerais de convivência na escola quando a norma é o tratamento desrespeitoso entre as pessoas, assim como não adianta saber como funciona a cadeia produtiva do papel se existe uma prática generalizada de desperdício nas salas de aula. É preciso buscar uma certa coerência entre a teoria, os princípios que se prega e a prática diária.
Do mundo pode-se dizer que é, desde a perspectiva humana, uma totalidade dinâmica de significados e sentidos que, num movimento dialético, é uma construção do homem e, simultaneamente, construtor do homem mesmo. Isso implica que, para uma compreensão do mundo, há que se compreender o homem, o fenômeno humano em sua ampla complexidade, nas suas múltiplas dimensões: religiosa, política, social, científica, tecnológica, ou seja, cultural em toda a acepção da palavra. Na atualidade, há uma crise que perpassa tudo o que é humano, ou seja, a crise de paradigmas que, sem dúvida, é o signo mais forte deste século; jamais a humanidade logrou tantos pr ogressos, não há século mais pleno de realizações na história da humanidade quanto o atual e, no entanto, jamais tivemos igual quantidade de desgraças. A crise de paradigmas que hoje temos presente não é somente um sintoma de desequilíbrios conjunturais, mas reveladora da transição estrutural da ‘sociedade industrial’ para a ‘sociedade da informação’. Além disso, o cotidiano escolar é repleto de situações que podem servir de ‘matéria prima’ para a discussão de questões éticas. É importante que os professores e toda a equipe escolar estejam atentos a essas situações e possam aproveitá-las da melhor maneira possível para provocar reflexões sobre elas, destacando-se os diversos pontos de vista existentes, os conflitos e quais as alternativas para resolvê-los. Mais que isso, não se trata de ensinar aos alunos uma lista de preceitos morais, como devem responder a essa ou aquela situação. No campo do ensino de questões éticas, não cab e a pregação de uma tábua de bons valores. Se o que se propõem como objetivo é o desenvolvimento de cidadãos livre-pensantes, a simples pregação de tábuas de valores torna-se uma contradição. De acordo com esse objetivo, o desafio é possibilitar aos alunos recursos internos e condições objetivas para avaliar as situações em que vivem e fazer boas escolhas tendo em vista uma vida mais justa e solidária entre humanos. Não se pode esquecer também que a construção de uma vida democrática, pautada por princípios éticos, é dinâmica. Evidentemente surgem fatos novos, as pessoas (alunos, professores, pais, funcionários) mudam, existem conflitos diferentes (porque eles nunca deixam de existir) que necessitam ser resolvidos a partir das discussões, do diálogo, criando-se uma tradição no grupo de como fazer isso. A vida democrática não é construída em um dia nem por uma pessoa, ela é feita a cada dia e pelo esforço de cada um para que seja possível um mundo mais justo.
“Aprender a ser cidadão é, entre outras coisas, aprender a agir com respeito, solidariedade, responsabilidade, justiça, não violência; aprender a usar o diálogo nas mais diferentes situações e comprometer-se com o que acontece na vida coletiva da comunidade e do país. Esses valores e essas atitudes precisam ser aprendidos e desenvolvidos pelos alunos e, portanto, podem e devem ser ensinados na escola.” (BR Ministério da Educação - Secretaria de Educação Fundamental. Ética e Cidadania no convívio escolar. Brasília, 2001,pg 13).
Contudo, concluímos que a escola pode nos dar as chaves do processo de libertação, até porque, sabemos que liberdade não é somente estar solto pelas ruas; liberdade é ter consciência e discernimento, é saber interpretar os acontecimentos, interagir com o mundo externo sem ser manipulado ou influenciado pelo poder de interesses diversos, onde muitos se fixam num único observar esquecendo de concentrar-se num bem maior: a vida.


3 comentários:

  1. Olá Irajá
    Sua reflexão é pertinente e adequada ao momento histórico de contradições e mudanças que vivemos. Propor ações pedagógicas referente à ética é complexo, porque necessário.

    Quando você se refere a crise de paradigmas na educação. Que paradigma vivemos hoje?
    Por que há tanta incoerência entre a teoria, os princípios que se prega e a prática diária?

    Pense! Reflita! Aprofunde esses pontos...


    Profº Alexandro Muhlstedt

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  2. Quando pensamos e/ou propomos "mudanças", esbarramos no primeiro paradigma. Mudança, sugere, sair da zona de conforto; envolve vários fatores entre eles, o medo. Medo do desconhecido, medo do fracasso, medo das critícas, entre outros. Portanto, falar de mudanças comportamentais e buscar neste ato, algo ético, é desafiar nossos principios e nossas crenças, talvez aí esteja a resposta do porque nossas ações não conciliam com o contexto teórico, nasce então, o antagonismo interno. Padronizados em planejamentos e projetos marcados pelas escritas e pouco praticados no cotidiano; talvez por não acreditar no que foi proposto, ou por acreditar que não adianta praticar...

    Irajá Luiz da Silva

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  3. Concordo com você Irajá, é difícil saírmos de nosso comodismo, isso é como uma doença, principalmente em escolas tradicionais seja pública ou privada, os diretores e antigos funcionários têm medo de novidades, sentem-se ameaçados quando "novatos" entram nas escolas cheios de idéias, loucos para colocá-las em prática, muitos temem perder sua posição ocupada durante muitos anos, "sempre foi assim, porque esse novato vem interferir agora?"
    Elaine B. Andrade

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